Sustentabilidade empresarial é o conjunto de práticas operadas por uma empresa com o objetivo de reduzir o impacto social e ambiental da organização e estimular o desenvolvimento do seu entorno. Hoje, no Dia Mundial do Meio Ambiente, entrevistamos Marcus Nakagawa* sobre a sustentabilidade nas empresas.
Esse é o primeiro post do 5 Perguntas para o Especialista, um espaço em nosso blog em que conversamos com diferentes profissionais sobre temas relacionados ao universo da comunicação.
G&A: Como as empresas podem inovar com iniciativas de sustentabilidade?
MN: As marcas conseguem inovar com iniciativas de sustentabilidade empresarial gerenciando e minimizando os seus impactos sociais e ambientais e, também, buscando melhorias em todos os seus processos internos e externos com outros stakeholders, como fornecedores, comunidade, governo, investidores etc. Nessa busca por melhorias, a inovação pode surgir nos procedimentos, na gestão de pessoas e, principalmente, nos produtos e serviços. Organizações antenadas com as megatendências sempre saem na frente ao buscarem não só as necessidades do consumidor, mas também da sociedade e do planeta. Um bom exemplo é o famoso vídeo que viralizou ao mostrar um canudinho sendo arrancado do nariz de uma tartaruga.
Esse vídeo, somado a um movimento ambiental já existente com as campanhas lixo zero espalhadas por todo o país, influenciou mudanças, inclusive na legislação da maior cidade do país, proibindo o canudo de plástico. As empresas de fast food tiveram que inovar, eliminando os canudos ou os substituindo por outros materiais – até mesmo por biscoitos nos milk-shakes. Esse é um exemplo do cotidiano, mas cada vez mais temos que ampliar a nossa perspectiva e o nosso olhar, que geralmente está focado somente para as questões financeiras, considerando também as questões ambientais e sociais.
G&A: Quais são as principais orientações para as marcas inserirem a sustentabilidade empresarial na estratégia de negócios?
MN: Uma boa estratégia é a empresa buscar um tema que envolva a sustentabilidade e que, ao mesmo tempo, esteja ligado a sua missão, visão e valores, ou seja, um propósito real da organização, que busque uma melhoria para a sociedade e o planeta. Para isso, temos os 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU, que indica os principais desafios do mundo atual.
Além disso, é importante que a temática da sustentabilidade empresarial esteja alinhada aos produtos e serviços. Por exemplo: uma grande empresa de alimentos pode trabalhar com o cuidado com o meio ambiente, pois todos os seus recursos e produtos vêm da natureza e das plantações. Uma empresa de bebidas tem que se preocupar com a água, pois é o seu principal insumo.
O fato é: uma boa estratégia parte de consultar um profissional responsável pelo desenvolvimento sustentável, que trabalhe com isso e tenha esse olhar mais direcionado para os ODSs. A Abraps, a Associação Brasileira dos Profissionais pelo Desenvolvimento Sustentável, tem trabalhado para disseminar esses propósitos e mobilizar o tema.
G&A: Como projetos sociais podem ser importantes para motivar as equipes de trabalho?
MN: Projetos sociais que estejam alinhados com a missão, visão e valores de uma empresa são fundamentais para motivar as equipes de trabalho, principalmente quando mobilizam os profissionais para trabalho voluntário e envolvimento direto com a comunidade.
Os projetos de responsabilidade social são cada vez mais considerados motivos de atratividade para profissionais interessados em propósito e causas. Ainda, são usados para a seleção e contratação de trabalho. E nesses trabalhos em grupo existem o desenvolvimento pessoal e o espírito de equipe.
Óbvio que os projetos ajudam a empresa, muitas vezes, a acabar com as externalidades nas comunidades locais, mas tudo isso precisa de muito planejamento para não ser algo assistencialista, sem escutar as reais necessidades de quem se vai apoiar. Existem vários exemplos de empresas que chegam impondo suas ações para a comunidade ou para uma ONG, pois é o que ela acha melhor para este público. E, na verdade, esse processo precisa ser construído em conjunto, buscando realmente melhorar ou apoiar a comunidade ou a ONG.
G&A: Qual a importância de uma empresa produzir relatórios de sustentabilidade?
MN: Cada dia que passa, consumidores pedem transparência em todas as ações das empresas. Isso não está mais restrito aos investidores, que são ávidos por informações e acompanhamento das metas e objetivos trimestrais da organização.
Num mundo conectado, o consumidor quer saber de quem ele está comprando. Para obter essa transparência e dar um feedback à sociedade, um dos melhores instrumentos de comunicação é o relatório de sustentabilidade, principalmente porque tem uma metodologia e pode, em alguns casos, ser comparado com o de outras empresas do mesmo segmento de mercado. Essa ferramenta também é importante para a prestação de contas para o funcionário e todos os outros stakeholders.
Alguns acham que o relatório é só para empresas grandes e que para as menores isso não é importante ou não dá tempo de fazer. Mas essas grandes empresas, principalmente as que têm ações listadas na Bolsa, buscam fornecedores que também sejam transparentes para garantirem em sua cadeia de valor transparência e uma minimização de riscos ambientais e sociais. Muitas vezes, acabam contratando serviços e comprando produtos de empresas que têm que passar por um compliance muito forte. E, nessa hora, esse tipo de ferramenta ajuda a aumentar a credibilidade e as vendas.
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G&A: Quais os primeiros passos para a empresa ter responsabilidade socioambiental?
MN: O primeiro passo é a empresa entender a real necessidade de investir seu capital intelectual, de tempo, energia e, muitas vezes, dinheiro para algo que seja de verdade. Pois, muitas empresas, seja por desconhecimento ou para fazerem algo para “inglês ver”, acabam fazendo um green washing ou social washing, ou seja, “pintando” a empresa de verde para ficar com cara de mais ambientalmente correta ou fazendo um projeto social que não causa impacto nenhum. A ideia é que existam pessoas, comitês ou grupos de trabalho que sejam responsáveis pelas estratégias e ações e que, principalmente, tenham uma ligação com a missão, visão e valores da empresa, e o apoio direto das principais lideranças da organização.
* Marcus é professor da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM); coordenador do Centro ESPM de Desenvolvimento Socioambiental (CEDS); idealizador e conselheiro da Associação Brasileira dos Profissionais de Sustentabilidade (Abraps); e palestrante de sustentabilidade, empreendedorismo e estilo de vida. O especialista também é vencedor do Prêmio Jabuti de 2019, na categoria Economia Criativa, com o livro “101 Dias com Ações Mais Sustentáveis para Mudar o Mundo” e coautor dos livros “Marketing para Ambientes Disruptivos” e “Nosso mundo: não temos plano B”.
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