O cuidado com a saúde mental tem sido, cada vez mais, uma importante preocupação na sociedade. O Brasil, principalmente, é o país com maior índice de pessoas com transtorno de ansiedade. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), mais de 9% dos brasileiros são vítimas da doença.
Um dado ainda mais preocupante é o que se refere a transtornos mentais de modo geral: 86% da população brasileira tem a saúde mental comprometida não só pela ansiedade, mas por outros transtornos, como a depressão.
Sendo assim, é importante que as organizações compreendam seu papel na prevenção e nos cuidados com a saúde mental de seus colaboradores. Pensando nisso, a G&A entrevistou o Dr. Ricardo Jonathan Feldman, Médico Psiquiatra do Hospital Israelita Albert Einstein, que nos contou um pouco sobre como as empresas podem cuidar do emocional de seus colaboradores. Confira!
G&A: Como as empresas podem contribuir para garantir a saúde mental dos seus colaboradores?
Dr. Ricardo Feldman: Existem inúmeras formas de fazer essas abordagens, mas muito tem se falado sobre instalar uma cultura de paz, baseada no respeito mútuo e diálogo, criando um ambiente mais propício ao compartilhamento que à competitividade.
É importante proporcionar um ambiente de trabalho adequado física, mental e espiritualmente, fazendo com que os colaboradores se sintam pertencentes à empresa e que esta, por sua vez, se importe com suas questões além do trabalho, cultivando uma boa relação bilateralmente.
Além disso, é fundamental a atenção à jornada de trabalho e possíveis sinais de burnout e outros transtornos mentais.
Outras contribuições podem ser: disponibilização de hot lines para conversas e atendimentos, atividades de bem-estar que atuem na prevenção de transtornos mentais e controle de estresse. O importante é estimular relacionamentos saudáveis dentro e fora do trabalho e incentivar a busca por ajuda profissional em casos de identificação de transtornos mentais.
G&A: Quais ações não podem faltar em uma campanha de saúde mental?
Dr. Ricardo Feldman: As ações que contemplam uma campanha dependem diretamente do nível de conhecimento do público quanto ao tema, mas, no geral, é adequado conscientizar as equipes acerca dos principais transtornos mentais, possíveis tratamentos e, principalmente, formas de naturalizar o tema, diminuindo preconceitos.
Dicas de autocuidado são bem-vindas, como formas de encontrar o bem-estar dentro e fora da empresa, além de disponibilizar um espaço seguro e confiável para o colaborador dividir suas aflições.
Outra ação que pode ajudar, é encorajar líderes a falar sobre momentos difíceis, como passaram por esse período e quais ajudas tiveram.
G&A: Quais hábitos e ações podemos adotar para combater o stress e ansiedade?
Dr. Ricardo Feldman: Práticas de relaxamento intencional e terapias alternativas, como o Mindfulness, são essenciais para o autocuidado e, tornam-se ainda mais efetivas, se o colaborador puder praticá-las dentro e fora do ambiente de trabalho.
Além disso, a liderança deve ter diálogo constante, fornecer feedbacks assertivos e com frequência, e estar atenta a sinais de depressão, ansiedade e burnout, com ações afirmativas para combatê-las. Campanhas de D&I também ajudam na construção de uma cultura de paz, que é importante para o bem-estar do trabalhador.
E, por fim, ter atenção a si mesmo: quando observado qualquer indício de comprometimento da saúde mental, buscar ajuda e tratamento especializado. A organização, por sua vez, pode participar desse processo respeitando o possível afastamento das atividades do colaborador, e acolhendo-o em seu retorno.
* Ricardo Jonathan Feldman é Médico Psiquiatra do Hospital Israelita Albert Einstein e do Centro Feldman de Saúde. Atua como professor na pós-graduação de Psiquiatria do Instituto Israelita de Ensino e Pesquisa Albert Einstein.
Formado pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, é especialista em práticas de bem-estar e em outras propostas na prevenção e tratamento de transtornos mentais.
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