A última rocha foi o comercial em que o craque faturou mais alguns milhões de dólares para “responder” às críticas recebidas pelas suas encenações em campo de jogo. Na verdade, ele já havia se defendido antes nas próprias redes sociais e em um leilão beneficente. Pouco importou. Ele é a bola da vez para ser chutado com gosto e raiva. O que vale agora reprovação é sua esperteza financeira.
Não vou tratar aqui se a saraivada de impropérios que o astro tem recebido é justa ou não. Já fui comentarista esportivo e teria conhecimento de causa para tratar do assunto. Conheço o meio. Como há quatro anos tenho cuidado de gestão de crise, prefiro abordar o calvário do jogador sob o ponto de vista da reputação abalada.
Aqui na G&A, agência especialista em prevenção à crise, o atleta e seu staff seriam orientados a como responder adequadamente às demandas/bordoadas vindas de todos os públicos. Não daria, é claro, para evitar a onda gigante de memes produzida durante Copa e após a fatídica partida diante dos belgas. Mas reduziria o poder de fogo da imprensa, que não se conformou com o luto do craque e recolhimento depois da desclassificação.
Não era para inventar a roda. Bastaria que Neymar trocasse o silêncio por uma entrevista coletiva tão logo voltasse ao Brasil. O ideal mesmo é se ele desse a cara à tapa na zona mista do estádio que marcou a despedida do time de Tite do Mundial. Todavia, como seu mundo havia acabado de desmoronar, como ele confessou na polêmica propaganda, talvez ele se deixasse levar pela emoção, fígado e falasse o que não deveria.
Como diz o ditado, se é para falar besteira é melhor ficar calado. Ainda assim ele chegou a perder a linha no Instagram, seu megafone social, ao atacar os “babacas” de plantão que caçavam bruxas após o insucesso na Copa da Rússia. A malcriação custou caro: não demorou para sofrer uma desvalorização de 11% no mercado.
Passada a decepção e a raiva contra seus detratores, Neymar poderia, sim, dar o ar da graça e falar, de viva voz, o que foi brilhantemente editado na publicidade. Com um punhado de key-messages, o astro conseguiria emplacar sua legítima defesa e evitaria de ser tratado como menino mimado e fujão.
Apesar da fama e fortuna, Neymar e seus assessores seriam sensibilizados que a imprensa deve ser atendida não porque é o quarto poder, capaz até de destruir quem se acha indestrutível. Não é para repórter que um entrevistado fala, e sim para o seu público, para o torcedor que pode ter também deitado e rolado com os memes, mas que chorou com o tropeço canarinho.
É fato que Neymar reagiu. Mesmo com delay. O leilão beneficente organizado pelo instituto que leva seu nome faturou milhões para as crianças carentes. Gol. No entanto, a façanha não foi o suficiente para limpar a sua barra. Como se diz aqui, crise deve ser vista como uma oportunidade para reinvenção. O movimento, porém, deve ir muito além de um evento estrelado por bacanas.
Se for agora bem orientado por profissionais de análise reputacional, o melhor jogador do Brasil vai perseguir uma agenda positiva, de preferência com a bola nos pés em campos franceses, para ficar de pé o mais rápido possível. Talento ele tem de sobra para se reerguer.
Ele diz que ainda não aprendeu a se frustrar. Bobagem. Frase falsa e de efeito da peça publicitária. Já se frustrou sim, sofreu mais fora do que dentro do gramado (com expressão de dor real) e virou um case emblemático do que não se deve fazer com uma carreira, por mais exitosa que seja esportivamente.
Em gestão de crise, falar a verdade sempre gera credibilidade. Nesse aspecto, o craque apanha ainda mais da língua do que das pernadas dos rivais.
Diretor Executivo
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